quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Gigolô das Palavras

Segue abaixo parte de um texto que eu gostaria de ter escrito, tamanho é o meu amor pelas palavras. Deliciem-se!

...Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional.

Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

Luís Fernando Veríssimo

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dupla Penetração

Estou com as idéias assanhadas, cheias de nós e gostaria, sem a pretensão de fazer uma análise profunda sobre algo, de registrá-las nesse meu cantinho.

Bem, você sabe exatamente o “tipo” de pessoa que lhe agrada? Tem certeza absoluta de que alguém com características diferentes das que você considera "as melhores" não lhe “fará feliz”? Você busca “estabilidade” emocional e financeira ou um “amor arrebatador”?

Nesse domingo, 23 de novembro, ao assistir ao filme Vicky Cristina Barcelona, produzido e dirigido por Woody Allen, eu passei a refletir sobre a percepção que tenho sobre o tipo de relacionamento que quero ou não. Não que antes de assisti-lo eu não me apegasse a esses pensamentos, mas eles estavam adormecidos e foram acordados.

Eu já admirei as pessoas que sabiam exatamente o que queriam da vida. Hoje, essa admiração já não faz tanto sentido porque eu não sei o que é “saber exatamente” o que se quer para a vida. E pelo fato de eu ter muitas dúvidas sobre a vida, desconfio, e até duvido, das pessoas que não têm. É isso mesmo!!!!

Se eu estivesse com um pouco mais de preguiça, resumiria esse texto dizendo que a vida é uma “bagunça”, e ela é. Como quero "conversar com as palavras", descreverei alguns pontos que me intrigam.

Já reparou que a vida vive dando nós em nossas percepções sobre "tudo"?

Já sei! Em sua cabeça esses nós não têm espaço porque você é uma pessoa que sabe o que quer e não tem tempo para “papo furado” e “romantismo barato”. Tudo bem, é só parar de ler e voltar para a sua "vida programada".

Ok, sua paciência está no "limite", mas, de pirraça, você quer saber como o texto termina, pois você "decide" o que fazer. Além disso, ficou intrigado com o título e pensa que as coisas "esquetarão" daqui para a frente.

Na intenção de desatar ou apertar os nós da minha mente, digo que acho “estranho” o poder que algumas pessoas opostas ao que consideramos nosso "par ideal" têm de nos fazer mudar de idéia. Não que eu tenha um "par ideal" no momento ou queira um.

"Essas pessoas tiram" o nosso chão confortável e nos "mostram" outros caminhos e possibilidades, antes desprezados completamente. E não é que em muitos casos, a gente acaba gostando do que antes não gostava?

É nesse ponto que o “amor ideal” se transforma naquilo que não queremos para a vida?

Eu só sei que o que eu quero ou não vivem vagando de um lado a outro, como se fossem peixinhos no mar. Numa hora estão do lado de cá; noutra, do lado de lá. É um "troca-troca" infernal e eu penso, será que isso é "normal"?

Eu não sou uma pessoa de ficar citando autores e nem gosto disso, mas o Sr. Nelson Rodrigues dizia que "de perto, ninguém é normal". Se ele estivesse vivo, eu lhe daria os parabéns pessoalmente por essa observação, pois a acho "curiosíssima"!

Voltando aos meus nós, acabei de entender a minha percepção de dupla penetração. Num dia, as informações penetram em meu cérebro de tal forma que eu fico arrepiada com o fato de ter encontrado “definitivamente” o caminho a ser seguido. É como se eu fosse imbatível e capaz de tomar todas as decisões que me levarão ao “caminho eterno da felicidade”.

Passado algum tempo, muitos livros, filmes, músicas, pessoas, lugares, peças, arquiteturas, calçadas e conversas, percebo que as minhas percepções estão “de cabeça para baixo” e ficam melhores assim.

Já que não há "saída", que a vida penetre a minha mente e a faça germinar, mudar de rumo e gozar "sempre"!